Título da fonte: Antologia da Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesa
1 – Apresentação da fonte
Trata-se de um livro que compilou poesias trovadorescas galegas-portuguesas referentes aos entre o século XII e o XIV em ordem alfabética a partir dos nomes dos trovadores e jograis. Essa edição de 1987, feita pela editora Lello & Irmão – Editores, consta com a introdução, comentários, traduções e glossário do Professor Alexandre Pinheiro Torres. Para a proposta didática aqui proposta, usara-se duas cantigas de amigo do jogral João Zorro que constam na página 547 da referida antologia. No que tange ao João Zorro, a autora Mercedes Brea (2014 apud DA SILVA; ARAÚJO, 2015, página 4) acredita na origem lusitana dele e que ele tenha sido “um jogral”. Contudo, as autoras Poliane Florentino da Silva e Márcia M. Melo Araújo (2015) discordam da hipótese da origem luso, pois o fato de João Zorro ser um jogral excluiria a possibilidade de ele ser português. De qualquer forma, sua atividade trovadoresca está ligada ao reino de Portugal. Segundo o autor Alexandre Pinheiro Torres, acredita-se que João Zorro tenha “andado pelas cortes de D. Afonso III e de D. Dinis” (PINHEIRO TORRES, 1987, página 543).
2 – Contextualização da fonte
O trovadorismo como fenômeno cultural-literário surgiu na região que hoje conhecemos como França (PINHEIRO TORRES, 1987). Já o trovadorismo galego-português consiste no conjunto de “cancioneiros” que circulavam na Península Ibérica nos “séculos XIII e XIV” utilizando para a sua lírica o “idioma galego-português” (BARROS, 2016, p. 19). Eram nas cortes de Portugal e Castela que essas poesias/músicas circulavam. Diversas foram as razões pelas quais a lírica provençal foi para os reinos ibéricos em meados do “século XII”. Destacam-se dentre esses fatores a difusão das “escolas monásticas da Ordem de Cluny”; as “peregrinações” religiosas” e a existência de nobres franceses nessas cortes (PINHEIRO TORRES, 1987, p. 8).
Ademais, um fator contribuidor posterior para a popularização desse movimento cultural em Portugal apontado por Pizarro foram as relações que o rei Afonso III tinha com a realeza e nobreza francesa (PIZARRO, 2008, p. 319 apud PESSOA, 2019). Contudo, apesar da origem francesa atribuída ao trovadorismo, esse tipo de literatura/música ganhou contornos específicos na Península Ibérica devido a interação com a cultura ali já existente. Outrossim, no período de Afonso III, já havia formas líricas trovadorescas autóctones em Portugal. Uma dessas características é a presença das cantigas de amigo como as que serão trabalhadas aqui do João Zorro. Nessas poesias, o eu lírico é uma mulher e “o trovador coloca na boca da rapariga as palavras que exprimem os seus próprios sentimentos amorosos”, traço esse que apenas existe no trovadorismo ibérico (PINHEIRO TORRES, 1987, p. 11). Outra questão que deve ser esclarecida é sobre os artistas cuja lírica formou esse fenômeno musical-literário. Conforme o autor Affonso Robl pontua que no cenário “poético-musical” ibérico existiam diversas figuras: “trovadores, segréis, jograis”; “cazurros”, “soldadeiras” etc... (ROBL, 1983, p. 155). Dar-se-á destaque aos jograis e trovadores. A principal diferença entre os jograis e os trovadores é o grupo social a qual eles pertencem (PINHEIRO TORRES, 1987).
Os trovadores proviam da nobreza (PINHEIRO TORRES, 1987) enquanto os jograis pertenciam “à classe servil” (ROBL, 1983, pp. 155-156). Segundo o autor Affonso Robl (1983, p. 155), a princípio, os trovadores eram responsáveis pelas composições, sendo tarefa do jogral acompanhá-lo “com instrumentos” ou cantar a música composta pelo trovador nobre. Contudo, na prática, diversos jograis compuseram sua lírica e entraram para a história o fazendo como por exemplo João Zorro.
3 - Proposta didática
Habilidade e competência da BNCC
(EF06HI19) Descrever e analisar os diferentes papéis sociais das mulheres no mundo antigo e nas sociedades medievais.
Conteúdo abordado: Poesia trovadoresca do final do século XIII e início do século XIV
Objetivos: Compreender como a mulher é representada nas cantigas de amigo do jogral João Zorro, assim como realizar um diálogo com a matéria de Português/Literatura ao estimular a compreensão poética da lírica trovadoresca.
Proposta: Exercícios acerca das cantigas com enfoque na análise da figura feminina.
Texto 1:
- Cabelos, os meus cabelos,
O rei pediu que lhe enviasse os meus cabelos;
Mãe, o que eu farei?
- Filha, dai-vos ao rei.
- Cachos, os meus cachos,
O rei pediu que lhe enviasse os meus cachos;
Mãe, o que eu farei?
- Filha, dai-vos ao rei.
(Tradução livre feita com o auxílio das notas e do glossário da fonte feitos por Alexandre Pinheiro Torres)
Texto 2:
Pela margem do rio
Ia cantando a donzela
sobre o amor:
“Venham as barcas, pelo rio, alegremente”.
Pela margem do riacho
Ia cantando a moça
sobre o amor:
“Venham as barcas, pelo rio, alegremente”.
(Tradução livre feita com o auxílio das notas e do glossário da fonte feitos por Alexandre Pinheiro Torres)
A pesquisadora Márcia Araújo (2013 apud DA SILVA; ARAÚJO, 2015, p. 2) defende que o rio seja nas cantigas trovadorescas como uma forma de se referenciar à “libido” feminino. Ademais, a barca pode “representar a presença ou ausência do amigo” (DA SILVA; ARAÚJO, 2015, p. 2). Já o autor Alexandre Pinheiro Torres defende que o desejo do monarca no texto 1 pelas madeixas da donzela, na verdade representa o desejo do rei pela moça em si. (TORRES, 1987, p. 547). Tento em vista esses simbolismos, responda:
- As duas cantigas expressam dois sentimentos diferentes. Quais sentimentos são esses? Justifique sua resposta extraindo os versos que demonstram o sentimento de cada eu lírico.
- A linguagem poética é rica em figuras de linguagens. Quais são as figuras de linguagem expressas nos dois textos?
- Explique o que é uma cantiga de amigo e extraia dos textos acima os trechos que permite classificá-los como tal.
4 – Área de interdisciplinaridade: Língua Portuguesa
5 – Referências Bibliográficas:
BARROS, J. D. O LIVRO DE CANTIGAS E O CANCIONEIRO DA AJUDA – o trovadorismo galego-português nos séculos XIII e XIV. Organon, Porto Alegre, v. 31, n. 61, 2016. DOI: 10.22456/2238-8915.65719. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/organon/article/view/65719 . Acesso em: 11 jun. 2024.
DA SILVA, Poliane Florentino; ARAÚJO, Márcia M. Melo. A SIMBOLOGIA DO RIO E O REI NAS CANTIGAS DE AMIGO DE JOHAN ZORRO. In: Anais do II Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Estadual de Goiás (CEPE/UEG): interdisciplinaridade e currículo: uma construção coletiva., 20 a 22 de outubro de 2015, Pirenópolis. Anais de congresso. Vol. 2. 2015. Disponível em: https://www.anais.ueg.br/index.php/cepe/article/view/5965 . Acesso em: 11 jun. 2024.
PESSOA, Felipe Ferreira de Paula. Dom Dinis e o papel do trovadorismo na cultura política medieval ibérica. In: Atas da II Jornadas de Estudos Medievais. 2018 / organizadores, Láisson Menezes Luiz, Lorena da Silva Vargas e Cristiane Souza Santos. Anais de Evento. – Goiânia: Faculdade de História da UFG, 2019. Pp. 19-28.
PINHEIRO TORRES, Alexandre. Introdução: Poesia Trovadoresca. In: Antologia da poesia trovadoresca galego-portuguesa (sécs. XII-XIV); introdução; notas; paráfrases e glossário: Alexandre Pinheiro Torres. 2 ed. Porto: Lello & Irmãos – Editores, 1987.
ROBL, Affonso. LOURENÇO: JOGRAL IMPERTINENTE. Revista Letras, [S.l.], v. 32, dez. 1983. ISSN 2236-0999. Disponível em: < https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/19340 >. Acesso em: 11 jun. 2024.